quarta-feira, 25 de maio de 2011

Miley Cyrus canta Nirvana para os baixinhos – e eles fazem coro

Foto: Sidinei Lopes/ÉPOCA

Dizem que a cantora e compositora americana Miley Cyrus perpetrou o pior dos covers da história do rock, ao interpretar “Smells like a teen spirit”, de Kurt Cobain. Pelo menos é o que diz a lista aqui do blog. Sou obrigado a discordar. Assisti ao vivo Kurt e seu Nirvana cantarem a canção cerca de dezoito anos atrás no estádio do Morumbi. E vi Miley Cyrus repetir o cover no seu show na Arena Anhembi em São Paulo no último sábado. Pois Miley cantou melhor “Smells lik a teen spirit” que seus criadores. Claro, é preciso lembrar que aquele show de 1993 deu início à decadência do Nirvana, e o começo do fim de Cobain. Ele passou o show cuspindo na câmera e grunhindo. Miley Cyrus está no auge de seus 18 anos. Ela ofereceu uma versão profissional e pelo menos afinada do hino do grunge para um público de 17 mil pessoas que lotavam o campo aberto do Anhembi – a maior parte formado por meninas de 5 a 20 anos. Um público de pequeninos, o que tornou para adultos medianos como eu a visibilidade excelente. Fiquei com pena das crianças, em maioria no local. Perto de mim, uma menina de uns 7 anos perguntava à mãe onde estava a Miley no instante em que a cantora rebolava a pouco metros de nossa frente. As crianças ficavam olhando os telões porque eram baixinhas demais para assistir ao show.
Sinal dos tempos, Nirvana para crianças. Não sei o que elas sabem sobre Nirvana, mas percebi que um mar de pirralhinhas cantavam a canção de Curt, bem como “Cherry bomb”, da banda punk The Runaways, e “I Love rock & roll”, da banda The Arrows, que desde que foi lançada, em 1975, virou um dos cânticos do rock. Não devem ter a mínima ideia de transgressão e desespero ou alegria agressiva que essas músicas contêm.
Havia alguma coisa estranha soando no palco. O que me leva a pensar que Miley esta deslocada generacionalmente, vamos dizer assim: ela apresentou um show de rock pesado & toadas country para uma audiência que só sabe amá-la, mas não entendê-la, ou compartilhar de sua atual fase rebelde. Sua banda, formada por bons instrumentistas de estúdio foi prejudicada peã performance de dançarinos ruins e canhestros. Miley não conta com uma produção elaborada nessa sua turnê Gipsy Heart. Mas ela se mostrou em São Paulo um verdadeiro animal criado no palco: canta afinadamente tanto as gritarias do grunge como as suavidades das baladas sertanejas. Sabe se impor a seu público, movimentando-se com segurança pelo palco, ocupando-o com precisão. Embora sua expressão corporal seja tosca, mais para roqueira do que para cantora pop, Miley mostrou energia e sinceridade em seu desempenho. Não há o que reclamar: Miley Cyrus se esforçou, deu o que o público pediu, foi genuína. O problema é que ela saiu da máquina Disney - e as crianças ainda não sabem.

Fonte Revista: ÉPOCA - MAIO/2011

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