terça-feira, 30 de novembro de 2010

Por que os gays mandam no pop?



Eles ouviam Lady Gaga muito antes de “Bad romance”, sabem de cor a letra do próximo hit de Katy Perry e já escutaram as músicas que devem conquistar as pistas de dança em 2011. Não é que prevejam o futuro. Eles fazem com que o futuro aconteça. Nos últimos anos, quase todos os grandes sucessos da música pop foram aprovados primeiro por frequentadores de festas destinadas ao público gay. A consagração do cantor MIKA e da banda SCISSOR SISTERS, que vêm ao Brasil nos dias 20 e 22, respectivamente, confirma essa vocação: os gays são os profetas do pop.
Além das roupas coloridas e dos falsetes hipnotizantes, Mika e os Scissor Sisters têm em comum um detalhe de suas trajetórias: ambos conquistaram projeção internacional a partir da devoção de um público formado majoritariamente por homossexuais. Para Mika, a fama veio com a romântica “Grace Kelly”, canção que o levou a ser comparado a Freddie Mercury (1946-1991), vocalista da banda Queen e ícone homossexual. No caso dos Scissor Sisters, a conquista não foi pelo coração, mas pelos pés, com a irresistivelmente dançante “I don’t feel like dancing” (“Eu não estou a fim de dançar”, em tradução livre). Além de contar com o apoio irrestrito das pistas de dança, que ajudou a impulsionar o hit para o primeiro lugar nas paradas no Reino Unido, a banda contou com o respeitável apoio de Elton John, outro ídolo gay, que colaborou com a banda na composição da música.
A colaboração tem um profundo valor simbólico. Na música pop dos anos 70, Elton John era uma exceção. Em sua maioria, artistas homossexuais de sucesso tinham receio de assumir publicamente sua sexualidade, com medo de que o preconceito prejudicasse sua carreira. Nas décadas seguintes, o tabu permaneceu: George Michael, símbolo sexual dos anos 80, só revelou suas preferências depois de ser preso em 1998, acusado de ter relações sexuais com outro homem em um banheiro público. Ricky Martin, ídolo dos anos 90, só assumiu ser homossexual em 2010, muitos anos depois de seu auge como cantor. No pop atual, a homossexualidade é encarada de forma natural. À exceção da vocalista, Anna Matronic, todos os membros dos Scissor Sisters são assumidamente gays e abordam a temática homossexual em suas letras e figurinos. O nome da banda (Irmãs Tesoura) é inspirado em uma posição sexual lésbica. Mika acostumou-se a dar entrevistas em que defende uma afetividade “sem rótulos”.
Uma possível explicação para o fato de artistas se sentirem mais à vontade para falar sobre sua sexualidade está na força do público gay. Em seu livro O ponto da virada, o jornalista americano Malcolm Gladwell defende a tese de que grande parte da responsabilidade pela criação de fenômenos mundiais (como o sucesso de uma canção) deve-se a grupos relativamente pequenos, mas com capacidade para espalhar a moda para o restante da população. É mais fácil, diz ele, conquistar um grupo menor, que depois vai alavancar a ideia. Para azar das gravadoras, ninguém sabe de antemão qual dos inúmeros grupos será capaz de disseminar um hit da música pop. Mas os frequentadores de festas para o público gay certamente estão entre eles. “O público é apaixonado pela cultura pop, lança sucessos antes de todo mundo, consome muito e fica desesperado por qualquer coisa nova que é lançada”, afirma o DJ Daniel Carvalho, principal estrela da Balada Mixta – festa paulistana destinada ao público gay, que já passou por Recife, Natal, Florianópolis, Porto Alegre, Uberlândia e Rio de Janeiro. Conhecido pela personagem Katylene, com mais de 80 mil seguidores no Twitter e um blog que recebe 1 milhão de acessos por mês, Daniel é um exemplo da capacidade de influência do público gay para fazer (ou desfazer) sucessos. “Ou a gente ama, ou a gente odeia logo de cara”, diz.


FONTE: REVISTA ÉPOCA

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